De fato, precisamos falar sobre representatividade
Misturei BBB, com vivência e muitas opiniões. Deu nisso.
Se você já torceu o nariz pro tema desse texto, é a prova final de que ainda não entendemos, de fato, o que é e qual a importância de representatividade.
Talvez eu não seja uma pessoa que tenha sofrido muito com isso, afinal de contas, sou mulher branca, classe média e (muitas vezes) dentro do padrão. Me vejo representada por aí, sem dúvidas.
Mas também sou lésbica, e foi aí que comecei a entender sobre a importância e as consequências da falta de representatividade. Recentemente, esse assunto veio à tona novamente no BBB. Essa grande vitrine da sociedade que nos faz encarar aquilo que faz parte do nosso dia a dia, mas preferimos fingir que não vemos.
Em uma dinâmica — não tão boa, na minha opinião — algumas pessoas precisaram “implorar” por uma chance na casa. Quem escolheu quem teria essa chance de ouro era, justamente, quem já estava na casa. E quando os padrões ficaram de fora, a internet foi a loucura!
Muitas pessoas celebrando a escolha de pessoas reais e algumas outras se sentindo imensamente ofendidas por causa do tal “racismo reverso”, “preconceito com pessoas bonitas” e, até mesmo, “perseguição com loiras”.
Mas para além dos absurdos, você já parou para tentar entender porque os padrões ficaram de fora? Porque, na realidade, queremos ter ao nosso lado pessoas reais, pessoas que se parecem com a gente, pessoas que nos identificamos. Enquanto o big boss era o único com poder de escolha, o objetivo era audiência, VT, likes, torcidas, etc. Quando a decisão tá com a gente, fica muito nítido a necessidade de termos por perto quem representa a gente. Não a toa, Juliette, Amanda e Thelminha são algumas das últimas campeãs (tô considerando o Arthur um surto coletivo que não vivemos).
Ok ok, falou falou sobre BBB e pouco disse sobre representatividade. Crescer se sentindo fora da sociedade é uma realidade que muitas pessoas conhecem. Estar fora do padrão — de beleza, de dinheiro, de raça, de gênero, de sexualidade… — é algo que corrói lentamente. Primeiro, você não se importa em ser a última a entrar no time, afinal, é normal duvidarem que você corra rápido, já que está acima do peso considerado ideal. Mas daqui a pouco, você desiste do esporte porque o mundo está dizendo que aquilo não é pra você.
Você não liga de ser a solteira do grupo, já que é lésbica e não consegue se assumir para todo mundo. Mas, daqui a pouco, prefere ficar sozinha no quarto, porque o mundo lá fora não vai te aceitar jamais. Enfim, posso ficar muito tempo aqui falando sobre isso.
Sem falar quando entramos no assunto de pessoas negras que cresceram acreditando que não podem assumir posições de destaque, como apresentar um jornal, porque nunca viram alguém igual a eles fazer o mesmo. É bem recente, inclusive. E vocês sabem disso.
As marcas da falta de representatividade estão aí e você, com certeza, já viu várias delas! Mas, será que a gente está fazendo o suficiente para quebrar com esse ciclo? Não, não vou te dar 10 passos para criar um mundo melhor, mas espero que você olhe para o que está ao seu redor e avalie em que lugar você se encontra.
Quantas pessoas negras ocupam posições de liderança na sua empresa? Quantas autoras brasileiras você leu nos últimos tempos? Quantos artistas LGBTQIAP+ você consome regularmente? Tem uma criança negra, mulher, LGBTQIAP+ em algum lugar do mundo que precisa de referência para acreditar que pode seguir seus sonhos.