Quem tem medo da linguagem neutra?
Não precisa falar "todes" o tempo todo, mas se quiser, também pode.
Recentemente, comecei um curso de UX Writing. Apesar de já ter feito alguns trabalhos que poderiam ser chamados de UX, eu nunca tinha estudado sobre isso, visto teorias ou algo do tipo. E tô amando! De fato, é muito legal entender como os textos que fazem parte do nosso dia a dia foram pensados.
Mas esse não é o assunto do dia. Só usei o gancho do curso, porque em uma das primeiras aulas, um assunto foi levantado: escrita sem gênero. Bases tremem. E antes que você já comece a responder, vamos destrinchar melhor esse assunto.
Não quero falar sobre a comunicação voltada para pessoas não-binárias. Não vou usar “todes” a partir de então (apesar de ser completamente a favor do uso). Estou falando de uma redação sem gênero. Ou seja, da criação de um texto que não é direcionado nem a homens, nem a mulheres (apesar de saber que, em alguns casos, isso é necessário e indicado).
O fato é que existe uma categoria de redação que precisa é vista por muitas pessoas e que, não sabemos, quem está do outro lado. Como no Instagram. Ué, Desirée, mas quando eu abro o app do Instagram eu vejo um texto normal, pra todo mundo. Será mesmo? Calma, vamos chegar lá! Antes de falar, de fato, sobre redação, bora entender um conceito bem importante: Androcentrismo.
Gosto de começar com uma rápida pesquisa etimológica. Neste caso, “andro”, do grego, “homem”, centrismo, vem da ideia de colocar no centro. Rapidamente entendemos como “homem no centro” ou “a ideia do homem estar no centro”.
O termo foi cunhado por Lester F. Ward:
Androcentrismo, é um termo criado pelo sociólogo americano Lester F. Ward, em 1903, que diz respeito às perspectivas que levam em consideração o homem como foco e análise do todo.
Aqui no Brasil, também temos estudos que envolvem essa teoria e conceito:
O sociólogo brasileiro Robson Fernando explica a prática como “A humanidade centrada na figura do homem, do humano macho”.
Ou seja, é essa cultura onde temos a figura masculina como referência o tempo todo. Inclusive na comunicação e linguagem. Um exemplo bem simples? O Windows, quando você liga o computador, diz “Bem-vindo”, mesmo que você o configure como figura feminina. Outro exemplo? O Instagram sempre avisa que “você tem 1 novo seguidor”, mesmo que essa pessoa seja uma mulher.
Ah, Desirée, mas isso aí já é mimimi. Não é. Isso é evolução linguística, isso é incluir na forma como nos comunicamos a realidade da nossa sociedade. E acredite, eu não falo isso sozinha! Como estudante de Letras, fico bem tranquila em afirmar que a academia está bem atenta a esse ponto.
E não, não estamos falando de criar frases com “e” e “x” em todas as vogais. Até porque, isso ainda pode causa problemas de acessibilidade quando pensamos em pessoas com deficiência visual, por exemplo, que precisam de leitura feita por softwares.
Mas, o fato é que podemos tornar nossa redação do dia a dia menos androcêntrica e mais neutra. Para quem trabalha com criação de conteúdo, como eu, é difícil adicionar termos como “todes” em comunicados da empresa, por exemplo. Nem todas as corporações já atingiram esse nível ou possuem um tom de voz que permita esse avanço. Mas tudo bem! Você pode começar com o fim do masculino genérico e fazer trocas como “consumidores” por “clientela”, “redatores” por “pessoa redatora”, “bem-vindo” por “gostaria de dar as boas-vindas”.
E, acredite em mim, isso não vai prejudicar a experiência de leitura e até passa despercebido por quem está do outro lado. A prova é que você chegou até aqui e, provavelmente, não percebeu que esse texto foi 100% escrito em linguagem neutra.